Setembro de 2011
Catarina oferece a chave à ignição e arranca com a sua trajectória bem definida. Faz o percurso imaginando um sem número de possibilidades para o seu encontro mistério. Sem a mínima ideia do que iria encontrar, percorre a vila na descoberta. Parece vislumbrar o edifício e estaciona o carro. Ao descer, tropeça numa pedra: a sandália preta coberta pela calça de ganga clara à boca-de-sino parece ter-se desequilibrado. O edifício parece abandonado. Provavelmente o clube mudara de instalações.
Tenta comunicar-se com Frederico, que simplesmente não atende à chamada. Nem tampouco a mensagem encontra resposta. O brinco redondo com imagens de papoilas, condizentes com o top sem alças grená, abandona-lhe a orelha prendendo-se à extremidade da trança. Enquanto devolve o brinco à sua função ocorre-lhe então deslocar-se à GNR local para recolher informações. Valendo-se da sua perícia e simpatia, ao fim de alguns minutos Catarina é possuidora de tudo o que necessita saber: às 19:00 Frederico estaria lá, no local que andara à procura. Mas Catarina mudara de ideias: não daria a Frederico o prazer de a ver! Na sua intenção dirige-se à recepção do clube.
A secretária, um pouco mais nova do que ela, talvez dos seus 35 anos, parecia distraída com a leitura de uma revista. À aproximação de Catarina levanta-se apressadamente e ajeita a madeixa de cabelo que lhe cobre os olhos para a poder fitar e dar resposta à sua solicitação.
- Desculpe, o Dr. Frederico?
- Não está. Mas posso ajudá-la ?
- Sim. Se não fosse muito incómodo deixava ficar isto para ele. Quando chegar entrega-lhe por favor?
- Com certeza! E de quem devo anunciar a proveniência?
- Não é necessário. Ele vai perceber logo ao abrir!
- Muito bem, será entregue!
- Obrigada – disse Catarina sorrindo à secretária, encaminhando-se na direcção da saída, enquanto duas grossas lágrimas lhe escorriam pelas faces.
Catarina tinha imaginado um encontro diferente, com Frederico a olhá-la nos olhos e a querer confessar-lhe o que simplesmente não podia; a entregar-lhe o embrulho e a despedir-se dele com um doce beijo no rosto; a declarar-lhe uma eterna e platónica amizade, para não dizer, um amor inconfessável. Mas o destino quis que a despedida não se desse. Era necessário, contudo, virar a página, e deixar que Frederico fosse feliz à sua maneira! Mesmo que, para isso, ela tivesse de mudar o rumo da sua trajectória! No íntimo de si, sabia que, quando Frederico reconhecesse o autógrafo, a mensagem haveria de bater-lhe no peito!
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